segunda-feira, 28 de maio de 2012

Só escrevo sobre desamor.

No pequeno conjunto de atributos que disponho
Para suscitar, e esparramar pela linha meus delírios
Quero que não fique apenas o meu desprezo
Não quero que a linha embriague-se em demasia
Apenas com a amargura das minhas lágrimas
Quero trazer de volta ao papel o riso louco
Das minhas alegrias, que de tão pequenas
Não poderiam ser menos desvairadas

Vêm e vão estas pequenas, desvairando meu coração
Mostrando-me tudo que há de doce e digno do amor
Fazendo do meu sorriso um novo meio de ser
Causam-me no peito a plenitude da tranquilidade
Apaziguam esses demônios turbulentos e inquietos
Que insistem em mostrar-se maiores que minhas forças
E, em meio essa calmaria, deixam-me caladas, vão pra casa

O que haveria de ser do gosto amargo
Se as doçuras, em toda sua efemeridade,
Não nos fossem apresentadas dessa forma sutil
E no fim de cada dança afobada e delirante
Descarrego sobre os ombros desta que vos fala
O peso de saber que é feita da matéria
Que monta a face dos grandes sofredores
De tortuosa e incoerente inspiração
Inspiração que só vêm dos delírios das noites insones
Dos longos e infortunos cultos de solidão

Que caiba ao desenhos desses símbolos
À oralidade fonética de cada uma dessas letras
Ao recitar destes versos que expõe minhas formas:
Em meu peito a felicidade também tem morada
Efêmera ou grandiosa, seu cheiro permanece em mim
O saber que ela esteve em pequenos pedaços sobre meu eu
Deixa-me inerte à uma alternada maneira de sofrer
E a pobreza destes versos, quase abafados
Dá-se por em mim nascer um pedaço de alegria
Essa visitante mal acostumada ao ambiente hostil
Que prefere em mim não fazer estadia prolongada
E por sentir-se neste meio, tão incomodada
Rouba da minha essência as palavras corretas
Os caminhos cabíveis para a escrita ser meu reflexo

E com a tristeza, meu demônio melhor aliado
Concretizo minha assimetria insana, decrépita
E a beleza assim se faz formada, letra por letra
A cada palavra embebida nos desgostos
Faz-se uma nova esquina em meus caminhos
Nos perturbados momentos de dúvida
Meu penar encontra-se sanado pelos vocábulos
Que a alegria, por firula de sua existência
Tão rara e fugaz em minha amargurada essência
Se esvai no silêncio da calma, do pacato
Por sua simplicidade eminente
Efetiva em mim todos os risos do mundo
E então foge, e me entrega novamente
Às minhas prezadas dúvidas descontentes

terça-feira, 22 de maio de 2012

Luíza.

Você conhece o vento triste
Desses dias de sol imperador
Que obriga à todos esse sorriso
Que o seu rosto não quer dar

Você faz surgir em você
Mil estradas de pensamento
E sem o poder da ignorância
Convive no louco tormento

Ah, você coloca seu tênis
Todos os dias sem pensar
Nos vestidos meio velhos
Faz-se em pé num novo dia

Não quer muito da vida não
Nem do convívio com o externo
Quer paciência e compreensão
Canetas bic e papel higiênico

Nunca ambicionou plenitude
Maior que completar origamis
Fazendo corações de papel
Com os panfletos de vende-se ouro

Mas quando volta pra casa
Olha todos os olhos tristes
Sem esperar que nenhum retorne
Volta sozinha e descabida

Chega em casa apelando pra si mesma
E evita ir dormir, ficar sem falar, evita sorrir
E dentro de você quer evitar o conflito
De enxergar todos esses caras falando

Muitas de você não cabem numa música
Muitas de você não cabem no espelho
E o medo aumenta o sofrimento
E o desespero entra de novo em cena

Tomara que durma de uma vez
Que você durma, quietinha
Fugindo dos seus monstros
Que só enxerga sozinha

Quem nunca os viu não poderia dizer
Acusariam-na de um drama, de um enlouquecer
Mas eles estão ocupados demais com suas gravatas
E nunca teriam tempo para ver o que você vê

Você vai continuar evitando o espelho
E vai continuar ficando velha sem ter nem vinte
E vai disfarçar sua tristeza com batom vermelho
E vai ir beber sozinha no final de semana seguinte

Calma que o dia ainda nem começou
E a tendência a partir de agora é só piorar
Esse ano você não vai aprender a tocar bateria
E sem qualidades musicais vai de novo se frustrar

Continue então evitando espelho
Derrube as coisas no chão para desviar
Não olhe os monstros nos olhos
Eles tem mais medo de você que você deles

Mas você sabe que é você é mil
E que sozinha está em um milhão de si
E que sozinha permanecerá em um milhão de outros
E que a chuva talvez pare de obrigar você a sorrir

E no final nem é tão importante assim
Tudo vai terminar num beijo desconhecido
No final o importante se perde
Quem vai ser você no final da noite?

Versinhos de insanidade.

Oh, e na quase profana
Inquietude do meu coração
Não posso escolher os vocábulos
Para à paixão dar vazão

E se a inquietude não me corroesse
De maneira tão efetiva e triste
Poderia calar para sempre dos meus lábios
Todos esse sentimentos que não te disse

Mas ah o poder das palavras
Sabe o que delas pode-se interpretar
O que viria após dizer estas desvairadas
Que tanto pedem para escapar

Deixa pra mais tarde essas insanas
Deixa pra depois eu tentar me explicar
Não ligue para minha forma de sentimento
Que hoje deu para se intensificar

Essa parte de mim me atormenta
E hoje quis ela sorrir com mais graça
Queria poder mandar tudo isso para dentro
Mas as palavras não podem ser controladas

Mantenho o silêncio incoerente
Mantenho o crime de não dizer nada
De manter calado no peito toda vontade
De cantar para você minhas canções

Entenda o desalinho e o medo
Que me consomem de pouco em pouco
Que me prendem nesse teatro
Onde me visto a cada verso
De um outro e desconhecido louco

Ah, minha insanidade
Essa decrépita vagabunda
Me afasta de minha verdade
Acha-se minha vertente mais profunda

Quero engolir todas as palavras
Antes que eu engula o mundo inteiro
Com minha vontade desesperada
De partilhar todos meus devaneios

Essa minha parte é pequena
Não olhem para ela como um todo
Ela quer dizer à ele as palavras
E ir embora em meio ao choro

Descabido corre o mundo
Descabido é esse jogo
Não fechem meus conceitos
Fiquem todos insanos

Pequeno homem.

Nasceu dentro de mim um homenzinho
Pequeno e tímido, sem cor, sem cara
Vagueia entre minhas máscaras sozinho
Esperando surgir em mim outra alma

Meio tímido, e sem semblante claro
Ele permeia meu vazio tropeçando
Conhecendo-me por todos os lados
Vai, sutil, no meu ser se acomodando

Sabe bem ele, que é um entre mil
Dos homenzinhos que fiz surgir por aqui
E por carregar esse saber, não fugiu
Das minhas inquietudes aqui e ali

Permaneceu o homenzinho, e chorou
Vez ou outra seus berros ecoam em mim
E ardem, descem queimando por  quem eu sou
Deixam-me imersa no nosso pequeno conflito

O homenzinho não sabe o que quer
Não soube me dizer direito quem é
Não disse para onde vai e de onde veio
Mas permanecerá em mim o quanto quiser

Estranho sentimento esse apego incoerente
Que o homenzinho fez surtar no meu espírito
Houveram outros dele anteriormente
Que vieram e foram sem me por em conflito

Carrego uma passarela limpa e estrelada 
Para que o homenzinho faça seu caminho
Mas ele acha-a, para seus modos, meio desajustada
Prefere tropeçar nos meus outros desalinhos

Não sabe de nada esse pequeno homem
Anda longe do caminho que para ele tracei
E essa rebeldia que sutilmente o consome
Faz-me querê-lo com ainda mais prazer

Este pequeno sem rumo sabe das minhas palavras
Não faz-se de tolo, apenas silencia o peito
Quando o obrigo, num sorriso, a defronta-las
Não dizemos nada, e rimos no silencio, do nosso jeito

Apelei nos meus devaneios, dar vazão ao homenzinho
Quis eu mesma dar-lhe o impulso que faltava
Mas decidi que não é meu papel escrever o destino
Nem interferir nesse pequeno homem feito de nada

Me incomoda querer saber de onde veio
Me incomoda querer saber se ele é parte de mim
Ou se veio até mim de forma externa, pelo alheio
E essa angústia, infantilmente, me faz bem

Talvez eu sempre soube quem ele é
O quão mutável se tornará
Mas prefiro deixa-lo crescer
E ver as formas que poderá tomar

E dos meus milhares de fragmentos
O homenzinho talvez seja apenas mais um
E após todo esse tormento
Ele vá embora sem rodeio algum

Deixe sempre o tal homenzinho neutro
Pálido e sereno brincar pelos meus conceitos
Fazer meus mundos um alento
Me desconstruir e remontar de outro jeito

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Sem título.

 Jamais irei me ater a pequena potência dessas palavras escritas com quase desdém por essa parte de mim que precisa se expor para se conter, que precisa do rumo das linhas escritas para canalizar sua expansão desenfreada. Apesar da necessidade do fechamento da essência em palavras tão pouco verídicas, isso é um crime sobre mim mesma e minha enorme força de pensamento - esse amontoado de palavras são o máximo que minha força criativa consegue exprimir da infinidade presente em mim, minha força criativa e de expressão se atém a sua infimidade.
 Por vezes, sinto que há em mim a necessidade incessante de ter um alguém tão singular quanto eu para que eu discorra as  palavras pela boca, para que meu corpo e minhas expressões auxiliem na soltura dessa imensidão onde minhas próprias bases já se misturam em meio ao resto da construção do meu eu.
 Na falta de ter com quem comentar a leitura de um livro fantástico, na falta de poder verbalizar com alguém ao som de uma música maravilhosa, pairo no limbo da minha solidão e converso inconclusivamente comigo. Observo junto a mim a fumaça que sobe do cigarro e dela concluo minha sujeira. Não caibo aos bons costumes, não sirvo ao ser mulher onde fui construída, tenho gosto pelo vagabundo e pela desordem, ao mesmo tempo que preciso de uma paz que não encontro em lugar algum. Me apaixono pelo lado mais cruel e desesperado que as pessoas conseguem exteriorizar, o lado mais animal do homem me agrada. Me apaixono por incongruências, momentos enfurecidos, palavras impostas com ódio, me apaixono pelo correr das lágrimas. Me apaixono por saber que, ao final da noite, os desconhecidos deitarão-se juntos e explorarão juntos aquilo que, envergonhado, jamais iriam expor socialmente.
 Minha necessidade de ter em quem depositar meus impulsos é uma crueldade com o alheio. Não há quem possa me trazer calmaria, e com a calmaria imposta, eu certamente cansaria do amor, mesmo sem deixar de amar. Conceito de amor comum nunca me atraiu. Gosto do amor que corrói, corrompe, do amor irrealizado que faz sofrer, do amor interrompido que tortura a alma. Gosto do amor não concretizado que percorre, nebulosamente, a alma, sem achar saída, se vê impossibilitado de ganhar vazão pelas portas que a covardia teima em fechar.
 Gosto do amor que dói, pela dúvida, e pela infinita possibilidade de criação que ele trás. Gosto da prática do amor, porque ela é suja, impura e mentirosa. Prezo pela amargura de ver minhas derrotas, prezo ao ver quem eu amo, amando outro alguém, beijando outro qualquer e oferecendo a este aquilo tudo que anseio com ardor. A irrealização me conduz e me condena ao fado de me sentir sempre em meio a solidão e ao sofrer, de ter que encarar o que eu quero não chegar até as minhas mãos. Gosto dos momentos de fúria que acarreta o sofrimento e a irrealização dos meus amores, e por esta eu prezo.
 Trago em mim a certeza de que nada irá me suprir. O dia que eu me enxergar completa e segura, precisará de um dia de devastação da alma vindo logo em seguida.
 A resignação não cabe em mim e nunca vou ter o suficiente para que me contenham fora desse constante processo de expansão. É aqui que me sinto plena, sem qualquer plenitude. Completa de nada. Me sinto coerente e respeitosa com o meu espírito.
 Nadei quando deveria ter andado, e cheguei a uma ilha onde tudo o que eu preciso é respeitar o fato de que estar sozinha é minha melhor forma de companhia. Que meu genuíno sofrer descabido engrena tudo aquilo que me permite ser, e que aquilo que mostro, para mim, para o papel, para as diferentes singularidades, é só uma das mil formas onde posso dar vazão à infinidade daquilo que me compõe. Não sendo nada certo, e embasando na incerteza meus pensamentos inconclusivos, sou toda a pluralidade que me cabe em pequenos pedaços de finitude duvidosa.
 Ora, se procuro alguém para amar e depositar nela quem eu sou, me torno incoerente e paradoxal. Não há como, amando alguém, partilhar com ela uma parte ínfima daquilo que me compõe sem submetê-la a um sofrimento imenso. Eu não me caibo em sofrimento, é mediocridade minha que eu force esse sofrimento a outras pessoas. Para os meus amores, essas almas as quais tento agradar, deixo apenas uma fração de mim, um tanto quanto inverossímil, mas inteligível em suas peculiaridades. A exigência para que acompanhem meu eu é absolutamente incoerente, nem eu mesma o acompanho. Resta a mim o penar de ter que assistir diversas, e consecutivas vezes, o meu amor sair de cena, como o bom desprezado que é. Meu desprezo por mim mesma causa minha resignação social. Para não infortunar o alheio - ao qual também carrego grande carga de desprezo - prefiro resignar aos meus próprios delírios quem eu sou, minhas mil faces, e quem eu busco dentro de mim.
 Ainda sim sofro em estado de quase morte. Sofro por mim, e esse penar é o pior sacrilégio da vida. Sofro por minhas contradições e pelo meu ridículo apego à elas. Sofro por não me enquadrar na normalidade, pela não concretização dos meus amores, e pelo meu ceticismo. Me dói e me alimenta minha própria falta de fé, como um remédio amargo que enfrento a todo instante. Me dói minha incapacidade de um amor concreto e saudável, me dói a necessidade de amar. Me dói não diferenciar o bem do mal, e essa dor me mantém viva e alimentada, para que eu não cesse em busca da redenção, do meu encontro com minhas várias vertentes, do meu encontro com o alguém que não se amedronte perante minha discrepância em ser, se alimente dela, e me dê em troca sua própria maneira tortuosa de seguir.
 A dor e o medo já são velhos amigos, fazem parte de mim e da minha busca e admito que com tudo o que eles me trazem, e tudo o que eles me afastam, meus moribundos dias vazios se afastam de mim. O medo e ador me trazem sentimento e criação, me afastam da calmaria que tanto repugno, e assim, ao me afastar de tudo, me aproximam mais de mim.

Erro de interpretação.

Fora de ritmo
Estavam todos dançando
Permeando a chuva
A noite se deteriorando

As vozes eram altas
Desconstruíam o meu redor
Nesse concreto de almas
Meus sapatos dançavam sós

Ninguém se achegou
Eu permanecia ínfima
A chuva aumentava
Sozinha eu permanecia

E na solidão da falta
Vi entre eles o beijo
No precipício em que entrava
Não achava outro jeito

Permaneci calada
Segurei o que quis escapar
Engoli amargo o grito, o choro
Enxerguei, novamente, meu desmoronar

E quieta me pus pra fora
Enquanto a cabeça ecoava
"Women listen to your mothers"
Minha mente triste cantarolava

E eu fui alertada
Pela voz de dentro de mim
Pelas vozes externizadas
Dizendo "não se exponha assim"

E tomada pela revolta
Da minha própria falta de eixo
A chuva caia no meu corpo
Fui vítima desse sujeito

O sujeito sem cara
Que se veste de palhaço
Mostra-se puro e doce
Antes de fazer o seu estrago

Parei sob uma marquise
Dei um trago na angústia
Lembrei das madrugadas
Em que me apaixonei por aquela figura

E quis ser a menina
Quis ser segurada
Dei vazão a essa sina
Que me deixa, agora, amargurada

Não quero mais as bases
Onde se fortaleceu esse monstro louco
Viver sem sobriedade
Deixando meu peito sempre oco

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ser alguém.

Sentei por um tempo
Pedi as contas para a vida
Não acho mais alento
Encerrei as minhas dívidas

Estive procurando um bom par
Para depositar os meus anseios
Mas sou um repelente de pessoas
Elas se mantém onde não as vejo

Quis conversar por horas
Sobre os devaneios da vida
Dividir minhas pequenas histórias
E uma garrafa qualquer de bebida

Mas não houve reciprocidade
Procurei até me cansar
Vasculhei por todas as partes
Coube a mim o sinistro calar

E viajei procurando quem fosse
Um ninguém coisa alguma
Para falar apenas dos seus cantos
Sobre as minucias mais profundas

Nunca quis saber do vencer louco
Da competição amarga do viver
Quis encontrar quem quisesse pouco
Deitar no meu ombro e adormecer

De todas minhas doces quimeras
Essa se manteve a mais pura
E esperei uma alma, aquela
Que encontrasse em mim abertura

Por vezes a espera
Deparou-se com bobagens
Acreditou em sua inocência
Que era uma pura verdade

E desistindo aos poucos
Tudo me pareceu novo
Afastei o anseio pelo grandioso
E no nada montei meu riso

Contrastada nos meus enigmas
Vou seguindo, sem parada
Sem certezas, descabida
No meu modo torto, desajustada

Desistindo de ser alguém
Resolvi que nada sou nessa vida
Viverei sob os olhos de desdém
Sem saber lidar com as minhas feridas

De subir nessa tal de vida
Nunca soube o caminho
Prefiro então minha calmaria
Meu filosofar quieto e sozinho

E assim prefiro esses dias
De desistência e falta de direção
Que me sejam raras as alegrias
Mas minha mente de às palavras vazão

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Desespero.

E eu andava pelas ruas
Meio solitária e deprimida
Já conhecida pelos bares
Achava alento na bebida

E o cheiro dos últimos tragos
Remanescia ao meu redor
Eu não aguentava a angústia
De estar, pela mente, quase morta

Encontrei ele de longe
Em minha falta de beleza
O que exibo para os olhos
Não agrada quem me enxerga

O quis da mesma forma
Com minhas limitações de mulher
Quis mostrar-lhe minhas outras formas
Que não foram feitas para um qualquer

Não tive pudor em adentrar sua mente
Utilizei todos os artifícios verbais
Para trazê-lo perto, em meu peito
E deitar-me com ele numas noites a mais

E as palavras trocadas
Em semelhança quase utópica
Me prenderam a ele, intocada
Esperando, para o meu amor, um sinal

Habitei, calada, a vontade no meu corpo
Enquanto com ele as palavras
Faziam nosso riso, nosso jogo
Mas ardia em mim o querer
De ser por ele desejada

E de tão semelhantes, jamais atingimo-nos
De tão recorrente a empatia, a alegria se foi
De tantas palavras para dizer, nos calamos
De absurdo do meu querer, o amor quase morreu

Ardia, e ainda arde o aguardo
De que ele veja em mim a beleza
Que da sua vivência ele descarregue o fardo
De também ter sido fadado a tantas tristezas

Me abate a certeza de que sou uma solitária
O saber que de tanto amor
Ao final serei vencida na batalha travada
Dentro de mim, da minha mente vasta

Enquanto houver em mim o desejo
De poder ter esse amor para nele depositar
Imaginarei inúmeras vezes o beijo
Que na carência do corpo irei lhe dar

E se não concluirmos meus devaneios
Guardarei no meu peito a felicidade
De você ser sido meu anseio
De ter me entregado, por uma vez, de verdade

E voltarei aos meus caminhos
Tortuosos e tão vazios
Nesse meu destino sozinho
Na a realidade de não me encontrar
De precisar de alguns copos de vinho
Para dentro da minha mente poder morar

Brechas.

Enquanto estava longe
Passei por um longo período
De experimentar o estranho
Para encontrar um abrigo

Experimentei de tudo
Passei por diversos caminhos
Levei alguns tombos
E decidi continuar sozinho

Busquei alguma coisa parecida
Algo que me lembrasse você
Mas não houve uma saída
Pois não pude me desprender

E a cada novo olhar
Eu pensava, deprimido
"Não queria esse lugar
Queria ela aqui comigo"

E como de fato é costume
No amor existe a brecha
Os desencontros entre mundos
O meu amor não te interessa

E se fosse para amar
Sua presença só para mim
Eu ainda sofreria a amargura
De saber que nada se dá assim

Meu amor será maior
Enquanto não secar no limbo
Enquanto de te querer sem resposta
Ele não der as costas se esvaindo

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Fraquezas.

Não tem nada de errado
Em estar meio pra baixo
O mundo consiste no fato
De não ter eixo bem colocado

Não tem nenhum problema
Sentir o fardo do complexo
Achar o peito meio vazio
Criar devaneios desconexos

Nunca foi crime chorar
E sentir-se deprimido
Não é proibida a tristeza
É parte de viver e ter vivido

E a beleza assim se faz
Em meio ao sentimento que aflige
A agonia que destroça o peito
Pode, de súbito, tornar-se o riso

O fim do mundo não é
Essa falta de direção
É muito mais que humano
Sentir-se vazio no coração

Embriagar-se nas paixões efêmeras
É o que de mais humano existe
Querer estabilidade na vivência
Não é o que nos consiste

A dúvida é o sagrado
O que move e faz o mundo
O conflito desregrado
E o desentendimento profundo

Cansaço.

Vou ligar hoje a televisão
As divagações me cansaram
Estive devotada com paixão
Pelos pensamentos sem solução

Quero assistir lagoa azul
Pra me livrar da intensidade
De ter ouvido tanto blues
Vou é ver sessão da tarde

Quero sentar pra comer pizza
Ouvindo as músicas do rádio
Falar de qualquer besteira
E então cantar loving you

O tédio virou meu inimigo
Me deu as costas e um palavrão
Em meio a ele eu alucino
Sem chegar numa conclusão

Não quero mais minha bolha de ar
Onde eu fico intocada
Quero rir com alguém e tomar chá
Sem ponderar demais as palavras

Cansei de ter que estar presa
Todos os dias comigo mesma
Quero sair da minha cabeça
Sem compromisso com a clareza

Não posso mais sustentar
As peripécias de estar cheia
Minhas palavras vão assustar
Minha mente é uma cadeia

Preciso desbaratinar
Me apaixonar pelo cara errado
Mudar de opinião em seguida
E buscar um outro fado

Os passatempos não me prendem
Mas eu quero todos eles
Quero mudar, e de repente
Esquecer da minha mente




quarta-feira, 2 de maio de 2012

Clichê.

Não quero que se vista de culpa
Pois já é dono do que é meu
Tens aquilo que me pertence
Mas não domino
Tens aquilo que se afugenta em mim
Por temer a solidão

Cubra-se com meu corpo
Busque em mim o seu abrigo
Busque no meu pranto a tua cura

Não precisa desse flagelo
Não precisa dessas conclusões sinuosas
Não mantenha nada oculto em seus lábios
Porque somente sua já sou

Não me complique com seu sorriso exagerado
De quem pede meu desejo
Não me prenda assim nesse estado
Faça acontecer seu eu em mim

Porque eu já estou cansada dessa luta travada
Entre o que é bom e o que é ruim
Estou entre o sim e o não, sendo descartada
Pelo meu jeito torto de te querer assim

Segure a minha mão, que sairemos pela rua
E ali mesmo verá eu me despir
Da vergonha cravada na minha cara
Desse amor que não sara e já não posso fugir

Barbárie Interna.

Um estranho gosto pelo impossível
E um medo louco que me apavora
Brincam em firulas dentro de mim
E teimam em não ir embora

Enquanto me deixo ir em devaneio
Ansiando por novos gostos
Dou meia volta ao ponto de início
Já que amedronta tudo que é novo

Ao diálogo não se prostram
Apenas dominam minha emoção
Já me ofereci para leva-los de volta
Mas continuaram em sua negação

Senti pena do meu conflito
Mas decidi parar de me importar
Agora eu e meu jeito somos amigos
O aceito por não saber lidar

Em outros tempos, teria fugido
Dessa minha discrepância em ser
Mas tenho, ultimamente, até sorrido
Por decidir  aproveitar do meu desprazer

Tenho até conseguido escrever
Vez ou outra consigo me expressar
Mas então o medo vem e me açoita
Rindo da minha vontade de mudar

Para que não haja mais pranto
O medo insano hoje eu aceito
Ele é mesmo meio louco
Não consigo achar outro jeito

Fica aqui bem quietinho
Esperando minha vontade falar
Pra então rir da cara dela
Me fazendo sempre recuar

Amar eu quis muitas vezes
Mas o medo pregou meu pé no chão
E quando, teimosa, o desobedeço
Ele me faz sentir imersa em solidão

Se amar só me trouxe efeito
Pra deixar-me coibida num canto
Resolvi ouvir esse louco medo
Que de tão louco vive acertando