sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sambinha.


Eu não sei ser sozinha
Sei não, sei lá
Eu não sei ser sozinha
Sem quem amar

Eu não sei ser sozinha
Como o sol que arde em toda manhã
Só, ele arde em quentura
Mas pra mim é uma tortura
Essa solidão vã

Eu não ser ser sozinha
Como o cão que corre sob o luar
Só, ele exala ternura
Mas pra mim é uma loucura
Não ter quem amar

As duas coisas mais importantes do mundo.

  Falam de você como se você fosse onipresente e uniforme. Mas ninguém te sabe, ninguém te vê. Interpretam-te não pelo que parece, mas pelo que tu faz parecer em cada mente, cada pele. Colocam-te nas letras, desenham-te, falam-te desvairados, como se a agonia de não te conhecer fosse suprida por essa dissimulação.
  Vestem-te de palhaço, de vilão, de mocinho. Te fazem um personagem, não te enxergam como ator, porque só és em ti mesmo. Acomodam-se em meias verdades sobre um pouco daquilo que sentiram sobre ti. Culpam-te, adoram-te, colocam-te num altar por te vestir de um personagem diferente a cada situação.
  Te sentem, como te sentem. No íntimo daquele homem apático, no mais profundo, muito além da superficialidade da moça empática.Te sentem, te choram, te riem, lacrimejam você pelos cantos, te fazem música, poesia, te definem, desconstroem, discutem sobre ti, posicionam-se sobre ti - mas não sobre ti mesmo, e sim sobre imagem desfocada pela qual leem-te- desdobram-se sobre ti, abraçam por ti, falam por ti, mas nem sequer ouviram sua voz.
  Ao te sentir todos souberam que foi real e verdadeiro. És real e verdadeiro, como cada abrir de olhos, por mais forjada que se dê a convencionada realidade de cada manhã. És verdadeiro, és íntegro. Querem ir além, pois sentir-te é como estar em contato com o mais sublime desconhecido, por vezes tão temido, e outras tão adorado. Colocam-te em verbetes, linhas fechadas de pensamento, te colocam na razão, te enchem de lógica, te enchem de limites, de letras, de símbolos, de falas. És um pouco de tudo isso, mas isso tudo não é nenhum pouco daquilo que você verdadeiramente é. Cada lente de cada homem te coloca como um ser uniforme, não pelo que você é, mas pelo que as condições desse homem exigem que você seja, ou pelo pouco que o frágil homem consegue delinear de maneira tão falha sobre ti.
  Não creio em nenhuma de tuas definições, do mesmo modo em que sou absolutamente confiante no pedaço que motivou todas elas a existirem. Não creio em mim, em meu singelo modo de tentar expressar o que é te sentir, não creio sequer nos meus próprios sentidos, impulsos e emoções, mas és isso tudo, és além da explicação. Explica-se pela falta de linearidade com a qual nenhum ser da raça humana consegue compreender, explica-se pela falta de causa e efeito, explica-se pelos pequenos fatos, explica-se por nenhum conceito até hoje criado ter suprido tudo que a humanidade anseia. Explica-se por ser acima do natural, por ser acima do tangível, por não precisar da razão para existir, e por saber que é por linhas tortas que sua verdade torna-se menos mascarada.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Da loucura.

Diante do espelho não havia ninguém
Não era eu quem me olhava
Estranha era aquela retratada
Incoerente, de face dissimulada

Ideais tantos dançavam arrítmicos
Nos olhos inexistentes daquela 
O mundo para levar nos braços
Braços quais?

Nenhuma pessoa em casa
No peito, destroços
De um incêndio crônico
No papel, lágrimas 
Costas açoitadas
Respiração descompasada 
Tudo forjado
No mais calado desenho
Das letras mal acabadas

O espelho, vagaroso, sussurrava
Mentiras espirais até o infinito
Contornando cada lampejo
De inconsciência, de asfixia

Um tapete então se lançava
Pro espelho de face desfigurada
Dando entrada para um palco
Onde eu não seria mais achada

Os olhos enganosos
O cabelo fino de um homem
Corpos esparramados
Em incessantes trocas de essência

Todos ali me eram
Eu os era por inteira
Irregulares e mascarados
Dissimulados e viciosos

O teatro não se fechará
O espelho mentirá novamente
E o vulto permanecerá incongruente
Mitificado por sua linearidade comum
Extraordinário pelo seu clichê tão aberto
E por tudo poder identificar
Cairá o vulto na solidão
De si  não contornado
Da loucura, da loucura