sábado, 28 de julho de 2012

Branco.

Existe um nada
Um lugar neutro
Onde nada é nada
E tudo é nada
Tudo é branco
Isso é real
Isso é científico

Existem os seus olhos
Existem meus ouvidos
E as pessoas pegam nas mãos
E cheiram nesse jardim
De nada, nada, nada

Ficam preocupadas
Imparcialidade 
Neutralidade
Isso tudo é só desse lugar
Ninguém chega nesse lugar
Ninguém interpreta Deus
Ninguém interpreta os homens

Um mundo todo
Criado na sua mente
Na minha mente
Que mente, mente, mente

Você me fez chorar
E eu te fiz sorrir
Beijei-te ontem de noite
Com os olhos lotados de tudo
Porque de branco não tenho nada
Tenho são as cores
Todas sem formato
Sem tamanho
Sem nome
E seu nome
É pra mim
Um jardim
De cheiros que eu preciso conhecer
Somos todos um câncer
Não desejado
Mal interpretado
Um amontoado
De células malignas
Que cresce e fica
Dentro de cada um 


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Você tem que me tirar daqui.

Você tem que me tirar daqui
Me tire desse lugar imundo
Aqui o demônio existe sim
Aqui meu grito é mudo

Aqui ninguém consegue me ouvir
E as paredes ficam próximas
Você tem que me tirar daqui
Eu acho que vou sufocar

Mande-me seu pulso
Antes que ele vá embora
Me livre do meu mundo
Me tire daqui agora


sábado, 21 de julho de 2012

Velha senhora.

Nem velha eu fico mais
Só se esse tempo louco
Começasse a andar pra trás
Já bati os setenta e nove
Ou um pouquinho mais


Essa velhaca desorientada
Sente um peso meio triste
Nessa multifacetada jornada
Que nem começou direito
Aos dezessete tá toda acabada

Meio deprimida, quieta e sem hora
Não sabe mais usar as palavras
Sem fé, sem cara, sem nada, senhora
Cansada, quebrada, OLHA A BOCA, fodida
Só restam agora umas dores no pé
Estranha essa velhota descabida

Continuo com a fé no café
Da água que ferve na caneca
Do preto pó que sabe quem é
Fé no isqueiro também guardo
O fogo que surge do bolso
É o amigo do fim fugaz do cigarro

A velhaca é suicida desencorajada
Tão empacada, não guarda mais nada
Queria ver tudo, se conhecer toda
Mas é mais fácil manter a mente calada
Agora a batalha já foi travada
E a velha só quer, de uma vez
Se entregar para o rei, e ser condenada

A velhaca tá na loucura
De não ter vinte, mas ter rugas
Na mente, no espírito, na cuca
A velha só anda na marcha ré
Quer dar na vida, um pé na bunda
Quer da vida, é dar no pé


domingo, 15 de julho de 2012

Insônia.

Ninguém saberia dizer
Se mais fácil é tentar
Ou mais difícil é morrer
Ninguém saberia dizer

As faces se envolvem
Na frieza de um instante
Mascaradas, comovem
Um ardil desprezo constante

O impulso, o desejo
Matam e escorrem o sangue
Pela boca crua após o beijo
Insipido e nu dos dois amantes

Não te queria em outros tempos
Não se encontra no teu cabelo
O relento modesto que desejava
Fino e claro, seus fios são dela

Da minha alma quem haverá
Quem, então, haverá de ser
O remédio pro riso morto
Quem irá irrigar minha amargura
Quem?

A ternura delas, suave e doce
Naqueles traços nítidos, arianos
São meu sufoco, meu açoite
São o não pregar dos meus olhos
Durante a calada e fria noite

São quentes vocês
Maníacos incuráveis
Me joguei pela janela
Vezes e vezes incontáveis

Meu corpo está perdido
Não tem traço, não tem modo
Meu corpo está estarrecido
Nesse espírito que ambiciona,
Em toda sua vileza, uma nua morte

Não verão, não entenderão
Buscarão n'outras a tranquilidade
Na delicadeza dessas moças
Que emanam a sanidade

Diagnosticada pelo médico
À meia noite numa cama qualquer
Pluralidade mórbida e terminal
Nas veias corrompidas dessa mulher

Injetaram-me o pulso
Inventaram meu respirar
Mas o coração, num impulso
Não deixa-se medicar

As begônias murcharam
As tulipas se foram
Restaram-se as cinzas
E essa falta de sono


Lugar maldito.

É nesse posto que estou agora
Nesse cargo sem rumo
Nessa estabilidade sem hora
Que me sinto mais imundo

Você que me tirou o peso
Que fez de mim esse clichê
Que, de longe, deu-me aconchego
É agora a única que me faz sofrer

Por não ter me negado carinho
Por ter calado meus versos tristes
Me desacostumou a ser sozinho
Sem nem ter aceitado meus convites

E você não é, nem vai ser a alegria
Fechada numa garrafa de sentimento
Absoluta, constante, uniforme, em ordem
E por tão longe estar do ideal, te queria

Não via em você sorriso todo tempo
Enxergar em ti apenas o choro não fui capaz
Você era a visão do equilíbrio e de todo alento 
Que há muito, muito tempo, não pude encontrar

E por estar dentro das medidas 
Daquilo que nem sequer pude desejar
Me colocou nesse posto oprimido
Onde te vejo sem poder te tocar

Sei dos teus versos, das tuas formas
Sei dos teus humores, do teu penar
Sei que de mim não quer nem metade
Daquilo que estaria disposto a te dar

E olhando de tão perto aquilo
Que poderia ter sido meu
Não fossem as firulas do destino
Desgosto do meu próprio modo
Desgosto desse lugar
Desgosto de ser teu amigo

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ciclo.

A lua tem dito que é dela a beleza
Que brilha na noite escura
Que é de sua natureza
Mas a coitada sabe pouco
Sobre quem faz a noite sorrir
É o grande e feio sol 
Que pouco a pouco
Faz da noite seu palco sutil
A lua arrumada em sua beleza
Mostra pelos cantos todos
De que é, do que é feita
Anunciando sua grandeza
Ao lado da noite sua companheira
O sol, que da noite sabe tudo
Ri enquanto assiste esse namorar 
Fazendo que a lua pense, coitada
Que é só dela as canções que a noite faz
A noite conhece o sol, e seu brilho 
Sabe que antes da lua é ele quem fala
Que se a lua fala de si sem modéstia
É do sol calado que a noite se faz par
E mesmo que incapacitados do encontrar
Sabem que são aliados do cíclico penar
De só existirem longe um do outro
Usando a lua como o elo de consolo
Entre esses amantes que afastam o olhar

Agosto.

A culpa não é dela, a culpa não é sua
Muito menos a culpa haveria de ser minha 
A culpa anda solta, correndo pela rua
Enquanto com ela te assisto, sozinha

É mais um dia desses em que não dormi
Que a insone companhia de mim mesma
Me trás o desgosto pelo dia que nasci
Minha face me causa essa tristeza
De não poder encaixar em mim a beleza
Que comportam aquelas que fazem-te sorrir

E o que me falta além dessa doçura
Que agrada os olhos de quem vê
O que nos falta além do desejo
Que em ti não poderia jamais caber

E aquelas palavras, você sabe quais
Guarde-as sentindo no meu comedimento
A amargura de não ser a moça capaz
De estar ao teu lado a todo momento

Cresce meu desgosto
Enquanto meu coração se fecha
Para que em lá por agosto
Eu encontre de você uma brecha


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Meu bem.

E no final da tarde
Se ninguém mais te quiser
Volte para mim, enfim
Que serei sua mulher

Se no final dos anos
Ninguém te completar
Sejas meu e nos desenganos
Seremos todos a festejar

Se o diabo usar teu corpo
Meu corpo será usado também
Serei sua porque és meu outro
Meu homem, meu amigo, meu bem


Pequena.

Estranho saber que você é minha menina
Que de tão soltos e bárbaros
Nossos corpos pequenos
Pertencem um ao outro

Gostoso é que me namore
No canto do quarto, sozinhas
Que caibam então no escurinho
Nossos descabidos beijos de carinho

E esse teu cabelo me envolve
E teus olhos de mulher me conhecem
E é minha irmã, minha pequena, minha vida
Meus versos se fazem até sujos de tanta alegria

Me conhece com a palma da mão
Não é minha pequena, minha morena?
Sabe que é da tristeza que sai meu alimento
E que ao teu lado só tenho alento

É tão meu seu riso desprevenido
Tão minhas são suas falhas 
Tão doída é a saudade do seu sorriso
Não sou minha, sou sua e solta

Nosso amor quente e meio torto
Quase tristonho, às vezes morto
Me faz completa nos nossos choros
Me faz incerta nos nossos risos

Que me continue aceitando nas torturas
Que me ame entre meus amantes todos
Que me ame entre teus amantes todos
E que cada olhar seu me seja puro
Nas nossas firulas de pertencermo-nos 
Por pequenas e grandiosas sermos 

Divino pecado.

Diabo é o outro nome do prazer
Pecado é o outro nome do amor
A cama, a bebida e as frutas
Me esperam nuas sem cobrar

Desejo os pequenos e os grandes generais
Sem esperar deles o zelo constante
Deles não peço respostas banais
Nada além de uma noite contente

Meu contentamento é fácil
Simples e sem pudor meu riso é
Não preciso de uma benção
Não preciso de um príncipe
Me agradam mais esses lobos sem dono
Que me levam sedentos pra floresta, sozinha

Me deite com os impiedosos hereges
Faça de cada canto dessa casa uma fogueira
Me queime viva, me deixe em chamas
Que hoje ninguém será condenado
Que hoje ninguém tem fé, ninguém tem farda
Hoje é dia de não ter nome, de não ser soldado

Pequei nos gozos, nos horrores
Pequei no céu e no inferno
Pequei em terra, pequei em mente
Meu corpo agora é só da serpente

Num profano amor sem culpa
Vou deitando pelos cantos da sala, nua
Sem esperar um sórdido depois
Amando o agora de nós dóis

Sem quisera, sem pudera, sem futuro
Hoje é dia do presente e do pecado
É dia de gozar das peripécias do impuro
É dia de entrelaçar as pernas e os braços
É dia de botar divindade no antigo rosto
Tão prazeroso e sutil do pobre diabo

As Donas.

Não havia ninguém na saída
Os olhos estavam fechados
As bocas calaram-se todas
Ninguém ali me alcançava

Os pés pisaram em pedras
Perdidos, faziam piruetas
Firulando pelas praças pretas
Pediam, parados, o fim da dor

E quem buscava na mão um afago
Foi embora sem dela ter gozado
Quem pediu de um estranho a abertura
Viu-se só caminhando pelo meio da rua

O grande problema é que nunca pude
Mostrar as graças de não ousar servir em mim
Só posso dispor do tempo de mostrar uma
Das duas mulheres que me completam assim

A dona Ana é amiga de colo
De tão amiga não tem prazer
De tanta pureza só ouve as tristezas
Dos amigos que pelo mundo veio fazer

A dona Maria é cigana sem dono
Sem rumo, sem lar, sem casa, no abandono
Goza de ser só sua, e de mostrar-se nua
De mostrar-se fugaz para as almas que ama

E as duas donas distintas aproximam
As duas também repelem e abandonam
Aqueles que a Ana consegue pelo carinho
Ficam por perto sem ver o rosto da Maria

A Maria que, por oposição, conquista
Não se subordina à doçura da Ana
E incompleta entre essas duas meninas
Os que tenho por um dos lado
Pelo outro me abandonam

Quis entrar na caixa da normalidade
Mas os meus pés ficaram de fora
Prefiro essa minha capacidade
De achar-me uma a cada hora

Que há de tão ruim que me venham também
Os outros nos pedaços mal cortados?
Que mal há que me caibam uns pelo peito
E outros me sirvam melhor pelos lábios?

Não há maldade em não ceder
Para uma totalidade de mentirinha
De cada um retiro um pouco
De ninguém e todo mundo sou
E assim jamais hei de estar sozinha




segunda-feira, 9 de julho de 2012

as lost as you are.


i'm as lost as you are
i'm as lost as you are
i can't take control anymore
i can't help feeling that way
i can't lose my mind this way again

so tell me what you're gonna do
tell me that your body is mine
so tell me what you're gonna do
tell me that you're gonna be my...

i always appear in your life
in the most strange moments
and we have that thing with no name
that can't last for too long

because i'm as lost as you are
as lost as you are
i can't take no control
i can't find peace anywhere

and all that mess around
is going to break me down
all that mess make me want to die

i'm as lost as you are
as lost as you are
we'll tear our world apart
we'll tear our world apart

you bring me down
you make me sick
you bring me down

i can't take the control
i can't take the control
i will not have control
i will never have control

domingo, 8 de julho de 2012

Desencaixes.

Não cabe à mim o pedaço mais íntimo de você
Não cabe à mim sua fidelidade, sua sinceridade
Talvez me caibam seus pedaços jogados às traças
Mas não me cabe sua imensidão, seu gosto inteiro

É impossível que eu monopolize essa alma tão imensa
Seus delírios tão incessantes, seu corpo tão grande
Não me cabe o ciúme, não me cabe o prendimento
Nem me cabem todas as minhas metades estranhas

Não me cabem minhas dores, as angústias sem norte
Me ficam presas pela ponta de cada dedo, pelos olhos
E de te olhar, enxergo aquilo que é penoso e atrativo
Que não cabe só à mim, que meus pulsos não prendem

Meus tolos desejos aceitam sem enxergar o depois
Quero a parte que me inspira, me excita, me deita
E, então, quero que me deixe, não me faço sua
Não será meu muito além de um ou dois agoras

EU NÃO SOU! EU NÃO SOU!
Metade daquilo que eu era já não é
Metade daquilo que você é ninguém conhece
Metade daquilo que você sabe é mentira
E na mentira você se faz todas as verdades
VOCÊ NÃO É! VOCÊ NÃO É!

E a insanidade de cada momento de suor
Cada entrada que pulsa, cada segundo que ama
Me fazem querer sua incompreensão
E sem compreender, me entrego, sem olhar

No escuro, no silêncio, na nudez
Sou sua Magdalena, sua Pâmela
Na falta, no beijo, no desespero
Você é meu Mojo, meu Panzón

E deixaremos de ser tudo que fomos
Para então sermos outro alguém
E com outro alguém vestir mais uma máscara
Do desejo, eu aprendo a sugar as estranhezas
E tudo que me é belo, inspiro pelo ato
Sem ar, sem fuga, sem dizer meu nome

Estilhaçada entre as cobertas, deixo cada pedaço seu
Aqueles vocês que ninguém vê, espalho pra fora de mim
Espalho suas sublimes vertentes sem pronunciar
Todas as palavras consomem-se na sua loucura

Vou embora, inquieta, repleta, desejosa e insana
Atrás da porta guardo meus gritos e minha solidão
E que ninguém entre na sua casa e te pegue assim
Que a máscara que me mostra se perca quando eu fujo

Sem telefone, sem conversa, sem insistência
Me fluo em você continuamente e te deixo sem pista
E nas nossas formas de não pertencermo-nos
O nosso amor errado e sem linha se esconde
A cada manhã que me visto e saio
Até surgir no meu querer o alguém da próxima noite