Não cabe à mim o pedaço mais íntimo de você
Não cabe à mim sua fidelidade, sua sinceridade
Talvez me caibam seus pedaços jogados às traças
Mas não me cabe sua imensidão, seu gosto inteiro
É impossível que eu monopolize essa alma tão imensa
Seus delírios tão incessantes, seu corpo tão grande
Não me cabe o ciúme
, não me cabe o prendimento
Nem me cabem todas as minhas metades estranhas
Não me cabem minhas dores, as angústias sem norte
Me ficam presas pela ponta de cada dedo, pelos olhos
E de te olhar, enxergo aquilo que é penoso e atrativo
Que não cabe só à mim, que meus pulsos não prendem
Meus tolos desejos aceitam sem enxergar o depois
Quero a parte que me inspira, me excita, me deita
E, então, quero que me deixe, não me faço sua
Não será meu muito além de um ou dois agoras
EU NÃO SOU! EU NÃO SOU!
Metade daquilo que eu era já não é
Metade daquilo que você é ninguém conhece
Metade daquilo que você sabe é mentira
E na mentira você se faz todas as verdades
VOCÊ NÃO É! VOCÊ NÃO É!
E a insanidade de cada momento de suor
Cada entrada que pulsa, cada segundo que ama
Me fazem querer sua incompreensão
E sem compreender, me entrego, sem olhar
No escuro, no silêncio, na nudez
Sou sua Magdalena, sua Pâmela
Na falta, no beijo, no desespero
Você é meu Mojo, meu Panzón
E deixaremos de ser tudo que fomos
Para então sermos outro alguém
E com outro alguém vestir mais uma máscara
Do desejo, eu aprendo a sugar as estranhezas
E tudo que me é belo, inspiro pelo ato
Sem ar, sem fuga, sem dizer meu nome
Estilhaçada entre as cobertas, deixo cada pedaço seu
Aqueles vocês que ninguém vê, espalho pra fora de mim
Espalho suas sublimes vertentes sem pronunciar
Todas as palavras consomem-se na sua loucura
Vou embora, inquieta, repleta, desejosa e insana
Atrás da porta guardo meus gritos e minha solidão
E que ninguém entre na sua casa e te pegue assim
Que a máscara que me mostra se perca quando eu fujo
Sem telefone, sem conversa, sem insistência
Me fluo em você continuamente e te deixo sem pista
E nas nossas formas de não pertencermo-nos
O nosso amor errado e sem linha se esconde
A cada manhã que me visto e saio
Até surgir no meu querer o alguém da próxima noite