domingo, 26 de junho de 2011

Beirava a insanidade a mente daquele homem. Ele lutava e reprimia seus anseios de obscuridade com a mesma força em que eles tomavam-lhe a paz. Há duas noites seu sono inquietava-se de maneira hostil. Não conseguira pregar os olhos, fora tomado pela vileza da insônia e de seus próprios inquietantes pensamentos. Tudo lhe era tão cinza que nem conseguia mais distinguir o que havia passado, o que passava e aquilo que ainda estava por vir. O homem estava relutante com seus conceitos, com suas ideias, com sua moral. Ele ocultava a todo custo aquilo que vinha à noite tomar-lhe o sono, porém suas forças eram pequenas comparadas ao tamanho do monstro que se fizera diante de si mesmo.
Ele sentia-se só, inquieto e só. Precisava de um par, como precisava de um par. Não exigia nada da vida, senão um par, para que compartilhasse com o mesmo tanto os temores quanto os prazeres. Não lhe importava a cor dos olhos do par. Tudo que ele queria era um par para compartilhar, usufruir, crescer, evoluir. Mas encontrava-se só, embriagado pela sobriedade de seus pensamentos, tomado pela fúria e a aspereza daquilo que ele mesmo procurava. Ele precisava integrar-se com si, mas precisava também de alguém para dividir.
Tomado por um suntuoso sentimento de fúria contra si próprio, ele deixou-se chorar. Dançou com suas lágrimas que desenrolavam-se graciosamente por sua face, ele não podia aguentar, mas aguentava com o  que sobrara de suas forças. A sua vida estava correndo num rumo além de suas expectativas, sua vontade era de perder-se em meio a si, ou em meio à outro alguém. Tinha vontade de tomar para si as dores do mundo, mas não era capaz de aliviar nem mesmo sua própria dor. Ansiava com todas suas forças por aquilo que tornara-se inatingível. Nunca estivera tão vulnerável, nunca estivera tão instável, tão volátil. Nunca sentira-se tão vazio em meio à tantos acontecimentos. Sentia-se inebriado por sua própria falta de essência, sentia-se entregue àquilo que julgava mais pejorativo. Sentia-se só.
Imerso nesse desconforto, partiu para um universo paralelo, único e seu. Onde confortavelmente repousava sob um manto repleto de si, daquilo que lhe fazia completo ao seu modo, de seus pensamentos secretos, de seus anseios ocultos. Permaneceu ali por certo tempo. Afastou-se da insônia e adormeceu sem esperar que o dia viesse de novo à nascer.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Explicações e Educação Pública.

Para todos aqueles que leram meu blog até hoje, meu muito obrigada sincero. Obrigada pelas quase duas mil visualizações, eu nunca imaginei que tanta coisa minha pudesse ser lida. Obrigada a todos meus amigos que me incentivaram a não deixar de escrever, que elogiaram minha escrita e me ajudaram a compor minhas idéias. Um muito obrigada gigantesco para todos vocês, antes de qualquer coisa.
Estive sumida novamente por mais de um mês, e por isso meu post de hoje é novamente extraordinário. Eu devo algumas explicações àqueles que costumavam ler essa budega louca aqui com frequência.
A princípio, durante a primeira semana, deixei de postar por preguiça mesmo, haha. Logo em seguida eu entrei numa crise existencial tamanha que me fez desistir de postar aquilo que eu escrevia, eu queria guardar tudo para mim. Essa fase veio recheada de filmes e eu fiquei tão inspirada com as histórias contínuas que resolvi que deveria criar uma também, e é justamente aí que entra em cena meu "livro". Eu ainda estou o desenvolvendo, porém agora me sinto mais livre para continuar com os posts habituais sem que o crescimento dele esteja ameaçado. Meu "livro" ainda não tem título, poucos dias atrás a protagonista ainda era uma incógnita repleta até para mim, de alguns dias para cá que ela tem resolvido mostrar verdadeiramente sua face. Meus personagens criam vida própria, nem eu os desvendo na maior parte do tempo. A escrita é tímida, simples, e a história pouco complexa, de conotação quase romântica.
Enfim, há duas semanas eu não tenho tido mais muito tempo, nem sequer para meu livro, que dirá para o blog (não sei estabelecer um nível de comparação entre o livro e o blog, mas como fiquei por dias imersa na minha própria história resolvi priorizar o livro, mas só nesta efêmera frase). O motivo dessa minha falta de tempo tão grave é tão problemático quanto noventa por cento da minha vida tem sido desde o começo do ano.
Vou retomar a parte de um texto meu anterior onde justifiquei minha ausência justamente pelo fato de eu ter mudado de cidade. Bem, eu mudei novamente, acabei voltando para onde eu tinha saído devido à problemas com a educação brasileira.
Falar de educação brasileira sem citar o termo "problema" na frase seria uma falha. Não culpo nem as instituições, nem os profissionais, culpo o governo e a passividade que nós ainda temos em relação ao que acontece nesse país. O motivo de eu ter de mudar é o seguinte: eu estou concluindo o ensino médio esse ano, prestarei vestibular em instituição pública, pretendo passar devido ao esforço que tenho feito nos últimos anos para tentar complementar o meu conhecimento, e faltando seis meses para o final do ano, a minha escola em SC entra em greve. Minha reação não foi nenhum pouco contrária à atitude dos professores, na realidade, fiquei orgulhosa desse ato de protesto ter ocorrido, apesar de todos os prejuízos aos alunos (que com ou sem greve estão se formando sem o conhecimento necessário). Estamos acostumados a vendar nossos olhos para esse problema corriqueiro, mas o profissional que mais esteve presente nas nossas vidas, o professor, é visto no Brasil como um trabalhador de pouco valor, que deve e é tratado como a escória profissional. Sem nem notar cedemos à esse tratamento injusto.
O governo de Santa Catarina, e com certeza muitos outros governos espalhados por esse Brasilzão afora, recusa-se a pagar o piso salarial do professor público (que já não é grande coisa, cá para nós). Os governantes tem a pachorra de pagar a multa por estar trabalhando na ilegalidade, de acordo com a constituição federal, ao invés de reajustar o salário desses profissionais. Tudo ainda seria mais aceitável se a saúde catarinense fosse um exemplo à nível global, se o saneamento básico trabalhasse de acordo para manter a integridade dos cidadãos, se a segurança catarinense fosse responsável... porém, nada disso ocorre, então a verba que chega vai para onde? Os impostos absurdos arrecadados estão indo pra levantar fogueira de São João? Ou estariam eles nos papéis higiênicos caríssimos em que os governantes se limpam? Será que eles estão nas cuecas, nas meias, nas mansões, nos carros importados, na negligência, na mediocridade, na hipocrisia e na incompetência desses caras que nós colocamos lá em cima para defender nossos direitos e manter nosso bem estar?
Falando numa conotação mais pesada, o suado dinheiro do trabalhador brasileiro volta para o caixa (dois, de preferência) e, inocentemente, se é esperado o mínimo dos que estão ali para administrar esses recursos que vêm daqueles que eles mesmos alienam, que eles mesmos discriminam, que eles mesmos colocam abaixo dos padrões, e ao invés de tomar o caminho correto a verba toda vai para limpar a bunda daqueles que estão recebendo para nos representar políticamente.
É revoltante o tamanho descaso que o Brasil toma em relação à educação. Os cursos de licenciatura são vistos com maus olhos, aquele que quer tornar-se professor é visto como "quem não tem o que fazer", toda forma de conhecimento é vista como chata e inútil, a alienação cultural mostra-se presente em crianças cada vez mais jovens, a efetivação do descaso pelos estudos é fator cotidiano na vida em sociedade no Brasil.
O ciclo é vicioso, aqueles que tem desgosto pelo conhecimento e são jovens hoje, amanhã serão os futuros profissionais, os futuros médicos, engenheiros, e até mesmo educadores. A base escolar não ensina o necessário para os estudantes que saem muitas vezes do ensino médio como analfabetos funcionais.
O professor se vê estressado, perde a fé nos seus próprios métodos de ensino, perde a fé nos seus alunos, que rebaixam a existencia de tal profissional em casos de desrespeito cada vez mais graves. Alunos entediados, professores frustrados, salários minúsculos, essa é a realidade da educação brasileira, desse país que se diz de todos mas não abre as portas do conhecimento. Tentam achar a solução abrindo mais vagas em faculdades, facilitando a conclusão do ensino médio, e acabam por rebaixar ainda mais o nível daquilo que já está ruim. Com todas essas facilidades, a última coisa a ser feita é tomar gosto pelo conhecimento. Enfiam goela abaixo métodos de ensino que não se efetivam, não cobram o conhecimento, cobram a nota. Não cobram o saber, não cobram a qualidade, cobram as cabecinhas passando de ano e a quantidade, para lá fora mostrar que o Brasil "está crescendo e se desenvolvendo" enquanto na prática um aluno de escola pública jamais conseguiria concorrer frente a frente com um aluno de escola particular num vestibular concorrido devido à diferenciação do ensino prestado em tais instituições.
A disparidade é ferrenha.
Enquanto o Brasil segue orgulhoso fora dos seus próprios trilhos, eu decidi voltar para o Paraná para não perder o ano e poder me formar profissionalmente com todos que sairão do ensino médio comigo. Não que a educação paranaense seja grande coisa... A luta em SC continua feia entre o sindicato dos professores e o governo, que só cede tirando benefícios daqueles que já estão há anos no mercado de trabalho aguentando a estressante vida de professor a troco de um salário absurdamente baixo.
O que fica no ar é a minha dúvida sobre o futuro, me pergunto se daqui há alguns anos todos não estejam saindo por ai auto didatas devido ao sacrifício que se exige na vida de um educador. Me pergunto se, ao invés de auto didatas não irão sair por ai pessoas que não saibam fazer muito mais do que rebolar e vender o próprio corpo em capa de revista para sobreviver, pessoas vazias e efêmeras. A intensão dos professores, em grande parte é boa, mas há algo para ser feito, além de protestar, quando o amparo governamental é tão baixo? E alguns governantes ainda conseguem ter a cara de pau de dizer que o professor reclama de barriga cheia...
Estou preocupada com as cabeças sem senso crítico, estou preocupada com essas rédeas no pensamento individual, com o que é transmitido para a grande massa na televisão, com o que é promovido como bom e prazeroso. Estou preocupada com os que ainda estão por vir e com a essência humana de uma forma geral. Tenho medo de que todos a percam por ai, enquanto ligam a TV...