segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

De carinho.

Então é só você comigo agora
Pra esquecer do mundo la fora
Embaralhar as nossas pernas
Até chegar o tom da aurora

Poetizar o nosso corpo
Na fúria de um beijo louco
Achar a beleza no óbvio
Perder-me em teus olhos

Fazer firulas no teu cabelo
Morder-te a ponta dos dedos
Gozar da nossa falta de decoro
Cantar-te meus versos bobos

E então, mergulhar no teu cheiro
Com minhas pernas te envolver
E dizer-te sem rodeios
Meus suspiros de prazer

E na simplicidade da nudez
Na falta de pudor ao te encontrar
Pude, enfim, conceber
A delícia de um alguém poder amar



A doçura da memória
Amarga o coração
O mel que foi embora
Transformou-se
À essas horas
Em aguardente
De solidão

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Aflita.

    Todos os vocábulos, todas as frases, todas as partes de mim que conseguem se transpor para o tangível por meio das letras, prenderam-se no topo da minha garganta, na ponta dos meus dedos e agora, soberanas de si mesmas, recusam-se a encontrar lugar no papel, para desafogar minha essência, tão perdida, cansada e confusa nesse mar de mim mesma onde tornei-me refém há tanto tempo. Hoje já sofro de síndrome de Estocolmo,
    O mar de mim é denso e profundo, me perco, ao mesmo tempo em que me encanto pela imensidão, por não mais ser capaz de subir à tona da realidade, e sob minhas loucas águas estar imersa numa zona em que o afogamento já se tornou sinônimo de conforto.
    Não me movo, estagno-me perante a falta de sentido, perante o incoerente fluxo dos meus pensamentos apressados, dos meus sentimentos tão densos e indecifráveis. Costumava aliar-me à poesia torta, e com versos tortos construía assim um subterfúgio, ainda mal delineado, para a fuga disso tudo que me sufoca, me aperta, me submerge nas minhas águas, nada límpidas, e de possibilidades infinitas.
    Me fascina o mover de minhas águas, um mar tão aberto, que sufoca devido sua falta de finitude, amedronta pelo seu tamanho e densidade, ao mesmo tempo em que me instiga, me puxa, me domina, me faz querer toda essa liberdade, toda essa falta de linha, esses movimentos hostis, loucos, que me machucam e também me afagam... Quero prender-me em bordas limiares, de águas calmas e rasas, um espaço onde tudo o que eu conheça me pertence e em que a dúvida deixe de ser uma constante. Porém, nas vezes em que teimei com a bravura de minhas águas inquietas e ao entorno delas quis impor limites, eu mesma penei com a possibilidade de deixar de poder morar nessa confusão de mim.
    Por fim, não sei onde me apegar para transformar todo esse mar numa realidade mais palpável, agora que de mim as palavras se desaliaram, me sinto só e desamparada como nunca antes estivera... Sofro dores de parto mental, cada vez que tento achar as linhas para as letras poder desenhar, e fazer surgir assim a panaceia de meus delírios insanos, mas nada consigo encontrar, nem um doce pedaço de poesia, nem um verso, uma rima.... Me desespero e afogo, quase sucumbo em meu mar, esperando que um dia as palavras possam ser novamente o frágil e efêmero abrigo de umas gotas do meu incessante mar.