terça-feira, 30 de agosto de 2011

Vai-te.

Cala tua boca
Que não quero mais ouvir teus verbos soltos
Que já me cansei de tua voz rouca
Que já me desprendi de tua roupa
Então cala essa boca
E me deixa dormir
Teus suplícios loucos
De tão inevitáveis tornaram-se ocos
De tão insuportáveis rolaram soltos
Da porta pra fora do meu coração
Nem teu sorriso me agrada
Não me agrada tuas mãos quando me afaga
Não me agrada teu cabelo desgranhado
Não me agrada teu jeito desleixado
Vai em bora de uma vez
E faz eu parar de mentir em demasiado

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Brincadeira.

Hoje eu decidi brincar. Decidi brincar do medo de que a idade me assombre com seus dias sórdidos que me aproximam mais e mais do derradeiro fim, certeiro e incontornável, esse final que amedronta até o mais corajoso, que monta valores para que haja em mim uma vontade repleta de que o final não chegue. Tomara que não chegue, que não chegue nunca, afasto agora.
Afasto de mim as marcas que são tão reais, tão reais e tão más que se mostram mais verdadeiras que a minha própria mente, que os meus sentidos. As marcas não obedecem o que eu peço, elas só crescem, crescem.
Saibam que esses dias fui no médico, e meus ossos pararam. Cessaram sua formação e agora só tendem a aproximar o ínfimo de mim. Chegaram naquele pico altíssimo da montanha russa e agora vão descer, formidavelmente, através dos anos que por mim vão passar e açoitar com pressa, sem me dar nem sequer a chance de gritar por um alento, de tentar achar socorro no verbo, no poema.
O verso é amigo, ele fica quando tudo se vai. Queria eu que quem envelhecesse fosse o verso, que o verso ficasse feio, ficasse gordo, ficasse pequeno pra sempre. Queria eu que o verso me desse sua juventude nata e eterna para que os anos não mais me obrigassem a ter que olhar de perto toda essa maldade que eles têm em si. Os anos são maus, o tempo é mau, o espaço é mau.
No final das contas, tenho mesmo é raiva. Me adoeço por raiva, por essa raiva insana que desenvolvi. Tenho raiva da minha consciência, não a queria, estaria muito grata se me fosse dado no lugar dela dentes, ferrões, garras, asas, qualquer coisa que deixasse menos maçante a sobrevivência. Que servisse unicamente para a sobrevivência, para a subsistência, porque existir me exige demais.
Reclamo mesmo, tenho que reclamar, porque vida que não é reclamada tem essa conotação meio distorcida de quem só segue e não tem medo. Eu tenho medo, e muito. Mas meu medo é diferente, ele não me prende, não me acorrenta, cria raízes sim, mas elas são fixadas em outro lugar na mente. No mapeamento do meu cérebro talvez exista essa parte de medo, que sem perceber foi apossada pela parte que cria. Meu medo é medo grande, moço, mas é medo criado, então sabe se comportar. Não é birrento, não se comporta feito bebê, foi agarrado por essa parte minha que gosta de dar vida às coisas que eu sinto, e deu vida à ele também, que hoje se comporta de maneira sutil. Apesar de sutil o bicho é grande.
Queria eu entender de biologia, de mapeamento cerebral. Queria eu dar veracidade empírica pros meus devaneios, queria eu que eles fossem experimentados por todos, sentidos por todos, e apreciados ou depreciados então pelo que são, não pelo que parecem.
Resta agora é o julgamento, o julgamento do meu eu e dos meus medos tão evidentes que fazem desse amontoado embaralhado de palavras, a estrutura de mim. Quem vê de fora não entende não, eu entendo que não entendam, nem peço que façam isso. Não quero isso não. Pode ficar sem entender, se entender é perigoso amedrontar também e não conseguir criar o medo com arte. Pode ficar com religião, pode ficar com as verdades, pode ficar com a música, pode ficar com a dança de tentar escapar do que não se escapa ninguém. Pode viver pelo medo que se esconde nessa capa fria que você mesmo inventou, não julgo não, porque a minha capa é essa brincadeira aqui.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Falso forte.

Invariável teu comportamento peculiar
Sem modéstia falsa, sem oscilação
Sempre tão límpido teu rastro
Tão magnífico e casto
Não te fazem jus ao coração

Você perdeu-se nas entrelinhas
Desaguou no mar aberto
De sentimento incerto
Ao qual tentou não reagir

Tua cabeça sempre erguida
Forjou essa força inibida
Que tomou tua mente sã
Pegou-te de súbito
Mostrou-se leito pro vão

Teu sorriso constante
De quem finge não sentir
Tomou lugar em teu pranto distante
Naquilo que só na solidão sentiu

sábado, 20 de agosto de 2011

Afetos.

No descartável
No descartável que encontro
Encontro o cartesiano
Cartesiano desconfiado
Desconfiado de existência
Com medo da existência
Que segue o medo da desistência
Do sentido vivo
Que não se apega
Vive cheio de vazio
Pelo medo da dor
Que faz desapegar
Sem nem ter apegado
Que não sente
E tem infimidade
Que não quer ser afetado
Que não experimenta
Não vive a experiência
Não existencia o existente
Por medo de não existir mais
Quer o rápido
O efêmero
O fugaz
Para adiar a angústia
Dum futuro incapaz
Não, não sente
Nem sequer por um segundo
Mas é claro
Claro que mente
Mente vil para si
Negando a experiência
Dando lugar único à razão
Razão cheia de liberdade
Liberdade idealizada
Pelos povos passados
Que sonhavam alto
Com a fraternidade
Que idealizavam
Com a igualdade
E acima de tudo brincavam
Com a liberdade
Liberdade sem limites
Que faz da sanidade
Um refúgio contraído
Ou perde-se no nada
Na expansão sem abrigo
Foge louco da perca
Foge louco da dor
Foge louco da raiva
Foge louco da insanidade
Foge louco do temor
Foge de si
Tenta não encontrar-se
Foge do outro
Para de si distanciar-se
Para dos erros vedar-se
Para das falhas anular-se
Para que o jovem lhe seja eterno
Pulando as fases
Ocultando as pequenas mortes
Fingindo que a realidade
Consiste nesse vazio
Mesmo que a si mesmo
Ele já não mais suporte


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Desencorpada.

Meu corpo
Nessa amarga sintonia
Cresce pela vazão
É disforme, e se expande
Expande-se com o medo
O medo da opressão
Tem medo de ser reprimido
Tem medo de calar

Esse meu corpo incerto
Que dança
No escuro
No vazio
Na força que tem o nada

Ele molda-se pelas metades
E recria-se
Num impulso
Num surto
E desmorona novamente

Meu corpo sente é falta
Sente é falta de alegria
Sente-se é um perdido
Mal aventurado
Desconectado do resto
Desconectado de si
Não se reconhece
Não amadurece
Vira pro espelho
Fica de joelhos
E tenta ser feliz

Mas o coitado
Tem problema
Problema
PROBLEMA
Problema de frustração
Problema de dor
Dói as articulações
Dói o coração
Bate descompassado
Fora do corpo
Fora do lugar
Bate no lugar da mente
Fala mentiras
Trai muita gente
Inventa novos compassos
Para o que era de costume
Reinventa-se um pedaço
De podridão e azedume

Minhas falas
As do meu corpo
São inverossímeis
Não expressam
Nem pela metade
Aquilo que eu apelo

Abuso é das mãos
As mãos são minhas aliadas
Calam a falta
Calam a saudade
Deixam-me alinhada
Alinham o pensamento
Constroem felizes
Aquilo que faria de mim
Uma coitada
Amargurada
Sem o dom que expressa
Sem o dom da palavra

sábado, 13 de agosto de 2011

Criação

Crio quimeras
Doces e azuis
Cheias de nada
Vazias de luz
Crio utopias
Inimagináveis
Infernais
Sufocantes
Arrogantes
Para mim
E ninguém mais
Ajeito meu compasso
No ritmo que eu quiser
Faço-te meu
Pelo prazer de ser mulher
Faço-me minha
Pela noite que desatina
Faço-te minha
Pois meu corpo a quer
Faço daquilo que posso
Daquilo que não
Daquilo que deixo
Um recomeço
Para outra negação
Moldo-me por fora
Por modelos reinventados
Pelo gosto que tenho achado
Em minhas disfunções
Renovo
Recrio
Reavivo em ti
As antigas loucuras
Que agora com ternura
Vê em outras dimensões

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Amor errado.

Descobri que o amor
Não tem mais o jeito
Pra calar a minha dor
E o pranto do meu peito
Porque para mim
Ele já não é mais feito
Ele se delineou incorreto
Pelas bocas estranhas
Que apesar de julgar a mim
Não são assim tão santas
Meu amor é um coitado
Jogado às moscas
Um desprezado
Vive da inocência
E da falta de linha
É torto como eu
Cheio de falhas
De vãos confusos
De falta de ideal
Ama qualquer um
E todos de uma vez
Meu amor não se fixa
Anda doido
Ama louco
Fala e depois analisa
Desama o amado
Pra amar outro qualquer
Ama amontoados
E não escolhe o sexo sequer
Meu amor anda pirado
Vai de loucura
Vai desvairado
Nem quer cura
Nem quer ser sarado
Quer continuar no seu modo
Meio descompassado