sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Monotonia.

E então eu fiquei cansada de todas as coisas que me rodeavam, de todo o ar que o tempo roubava de mim, fiquei cansada das noites sem sono e dos dias vazios, fiquei cansada da minha falta de fé e do vão instalado no meu peito. Cansei-me por inteiro, me afundei na profunda imensidão do cansaço e estagnei-me sozinha nessa áurea ofegante.
Minhas metas, meus ideais, todos já não tinham mais sentido algum. Não me importava com os dias e as horas. Os problemas do mundo eram ínfimos e eu não os enxergava mais, mesmo que tentasse, estava cansada de tentar achar a solução para aquilo que não pode ser resolvido, estava cansada do mundo e das pessoas, de seus milhares de problemas, de sua insatisfação eterna e ao mesmo tempo de seu conformismo, e suas alegrias medíocres. A felicidade alheia me incomodava, a alegria com aquilo que era tão pequeno era, para mim, digna de repúdio.
Todos os extremos me desagradavam, e tudo o que era raso me causava asco, aquilo que era moderado eu repudiava. Nada me agradava, tudo tinha o gosto amargo de não ser e não estar em lugar algum. Tudo era o cinza sem perspectiva que eu gostaria de nunca mais ter de encarar, mas encarava a cada manhã quanto a consciência de um novo dia se levantando vinha à tona.
Eu estava presa, sem a menor vontade de escapar do meu submundo interior. Meus mistérios periféricos surgiam a todo instante, meus pensamentos desvairavam-se perante a própria realidade. Meu corpo físico era a única projeção concreta que me fazia crer que eu ainda existia, e não fora completamente tomada pelo limbo que estendia-se diante dos meus olhos dia após dia.
E se o sofrimento se delineasse em alguma forma por mim já conhecida, essa forma teria olhos, teria cheiro, teria corpo, teria o toque mais doce que eu já senti. Meu delírio apático e insano tinha nome, e era cheio desse magnetismo estranho que me acorrentava à ele. Era meu, feito para mim. Meu delírio fazia graça, sorria escancarado, e me intimidava só de pronunciar-se. Meu delírio havia me deixado no desgosto da solidão sem ao menos ter me beijado, sem ter me tocado, me pulsado.
Meu delírio enfatizava-se em sua irrealização, e portanto tornava-se ainda mais enfadonho.

sábado, 22 de outubro de 2011

Para os meus amores.

Amor, é conveniente que seja falado sobre você. É interessante que os devaneios acerca de sua existência se discorram com tanta graça pelas inescrupulosas bocas humanas que falam de ti, todas como se o conhecessem em essência, coitados de nós.
Quero olhar para ti, amor, deleitar-me nas alegrias que propaga com seu cheiro, falar das flores e dos sorrisos, quero perder em você toda minha timidez, não quero me intimidar em sua grandeza, quero te olhar nos olhos, quero teu beijo, teu sorriso, a imagem de você dormindo no meu colo.
Se fosse simples assim sua existência, amor, jamais teria o amaldiçoado pelos séculos. Jamais levantaria em seu nome palavras de escarnio, jamais riria dos seus trajes, nem sequer duvidaria da sua veracidade, apenas o tomaria em meus braços e me afagaria em teu cheiro sublime dia e noite, como uma criança pura.
Mas tem que ser você, amor, o criador também das desilusões, tem que puxar de volta o gosto amargo de encontrar na verdade uma mentira, e de sentir-se indefinidamente vazio. Tem que se ausentar, esse amor maldito, tem que deixar crescer no peito a raiz de tudo que é ruim, tem que chorar e sofrer, tem que assistir desmoronar o castelo e manter-se calado, para que os mandatos do soberano amor sejam cumpridos, quer a mente queira ou não, quer o corpo queira ou não. Se o amor quer não é necessária que seja dita nenhuma palavra sequer: ele faz o estrago, assume a culpa, e continua a zombar.
Amor, não sei quem você é, não sei quão profunda pode se formar a incógnita em torno de ti, mas acredito que venhas a ser o filho bastardo da pureza com a insanidade, que numa noite qualquer embebedaram-se até que você fosse concebido. Tem cara daquilo que é bom, sorri com alegria para todos que o encontram, mal sabem o monstro que se levantará cada vez que seu veredito for exaltado.
Inocência é a nossa, de crer que algo atingiria tamanho grau de plenitude, de sorrir tão calmamente e alimentar a visita acomodada, que não diz quando vai ir embora, e nem avisou a hora de chegar. Alimentando-o vagarosamente ele cresce, por nossas próprias mãos, para cuspir de volta, com amargura, o oposto de tudo que recebera o que com tanta esmera criamos e vimos crescer.
Perversos, nos tornamos o reflexo daquilo que o amor tornou-se em nossa vida. Eu me esqueci, me esqueci da imagem do amor, me esqueci de como o amor toca, de como o amor beija, me esqueci do frio do amor, do sentido do amor, meu conceito de amor se desfez por completo, agora é nulo. O amor que criei com tanto cuidado, virou as costas e foi para o mundo, deixou que eu suportasse sozinha a falta que me fez, e exigiu que eu reaprendesse a viver novamente. Desidealizei o amor, é o filho que tive, neguei e amaldiçoei por diversas vezes, e agora aceito pacata, com a cara que ele se apresentar à minha porta. Mesmo que não volte mais. Mesmo que volte aos montes. Mesmo que volte diluído nas fraquezas mais humanas, o aceitarei de volta, o abracarei, e o deixarei ir quando quiser. Mesmo que me machuque no íntimo, mesmo que ele saiba do que fez e volte com essa cara vagabunda que assumiu diante a mim.
Depois de tantas desventuras com esse amor, descobri que ele não é nada, e é tudo. Amor só é amor quando a humanidade é deveras inapta para completa-lo. Amor é falta de integridade. O amor é um filho da puta.

sábado, 8 de outubro de 2011

Onomatopéia

Estala o tec
Escala o toc
Desmancha o tuc
Você tá com tic
Relógio tá com tac
Pega do começo e VRUMMM