segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Flor que se cheire.


Não sou flor. Sou só caule. Não tenho um cheiro, tenho milhares de odores e de perfumes que inundam os narizes que vem até a mim, dependo do nariz, e não de meu próprio cheiro.
Não desenvolvi minhas pétalas, elas por vezes brotam pequenas e logo caem, como quem não tem forças para vingar. Minhas pétalas são de mim como eu sou delas, minhas pétalas serão minha alma quando ela estiver pronta.
Resumo-me ao caule. Duro, seco, oco, caule. Caule com espinhos e secura, caule de folhas molhadas de orvalho quando as manhãs surgem com o sol após a longa noite escura e fria. Caule de vertentes incógnitas, de exposição falha, caule de poucas palavras com poucos suspiros. Caule de crimes.
Não existo enquanto flor, existo como pequeno pedaço de flora pouco desenvolvida, pouco delicada, pouco natureza. Meus espinhos rijos e tímidos me descem pelo caule liso, limpo, sem compreender meu caule, sem compreender meu não desenvolvimento. Sou vítima do meu próprio espinho que não me enxerga como quase flor, me enxerga como sua morada sem preceitos, sua morada, só sua.
Meus espinhos me ferem, me fazem ferir, eles são pequenos e pouco visíveis, mas estão ali para não deixar que me vejam em grandeza, para não deixar que eu me veja em grandeza, estão ali para me lembrar da minha função única de caule sem pétalas, para me colocar no ínfimo de meu ser vegetativo, inodoro, monocromado e hipersensível.
Sou quase botão, que não decide-se por onde começar seu nascimento grandioso, e quer essa grandeza acima de qualquer coisa. Por querer sua devida grandeza em pétalas estonteantes, como dádiva da natureza que só lhe dá espinhos como cobertura do corpo nú, contempla seu íntimo e contenta-se em não nascer.
Não sou nascida. Não nasci como flor, nasci como caule. Nasci como nada, não nasci.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Arte.

Sua alma é aquela arte indescritível, impossível de ser dita, descrita, devorada; sua alma é límpida e profunda; é tão densa de ser que eu não consigo atingir, nem com minha própria densidade. Eu não sei te atingir, não sei te decifrar, e me apaixono pela sua dúvida em que você se compõe. Não posso te alcançar.
Eu gostaria de ter, ter sua alma, ter seu corpo, ter seu eu, ter o nós, mas você não é alguém que se adquira, você é além da incógnita da própria alma, você é abstrato e calmo, como a necessidade. Você é verídico, e também uma ilusão.
Não te seguro, não te penso, te sinto, te vejo, te cheiro. Você é alimento de alma, alma que precisa de arte, alma que tenha capacidade de te deixar livre. Não da minha. Minha alma não te engole, nem mesmo te prova; minha alma possessa não se permite segurar o que não pode ser preso, por isso prefere se afastar do cálice do seu ser, tão cheio de pecado, tão cheio de vontade, tão intenso e incompreensível.
Suas cores estão soltas dentro da sua alma, suas cores não precisam de pincel; elas são a própria vida! Elas desenham formas e pintam desejos que enchem meu corpo de paixão, ódio. Suas cores envolvem-se em mim como o manto que cobre o corpo descoberto e me acalmam, me enchem de amor. Mas suas cores vão. Instáveis, variáveis, vibrantes e indefinidas; as cores do seu ser me encantam e me seduzem, me permitem voar, e me fazem cair no chão. Suas cores são minhas; motivam-me, excitam-me, me permitem sem dar permissão.Quero ser papel que te segura, te prende, te faz meu, mas é incogitável. Não tenho estrutura de papel que possa te prender, e suas cores me fogem, somem. Suas cores voltam para me atormentar os pensamentos e me encher do desejo, formidável, desestruturado e incomensurável de te ter. Fazem dois riscos no meu amontoado fraco de celulose, e partem, deixando-me insana do querer. Quero continuidade, quero inundar-me em todas as suas cores, em toda a extensão do meu eu, meu papel tão fraco, e tão possesso, meu eu tão necessitado de um sublime instante com as chamas da sua intensidade.
Você é fugaz, cruel. Deixa-me mórbida aos seus pés, enche de enfermidade e de delírio minha alma que te degusta fora dos sentidos. Você é inevitável, e completo. É cheio de prazer, sem ao menos tocar. É um pedaço de Deus, é um pedaço de mim, é um pedaço de tudo que me apaixona, e de tudo que me faz morrer.
A você eu dedico o amor. A você eu dedico meu prazer. Aos pés da arte da sua alma, tão cheia e tão envolvente, estão minhas mãos sórdidas de vontade.
Estou inflamada por não poder te tocar.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Falando de fragilidade humana.


Os fatos são claros. Não existe nada que possamos fazer para criar o elixir da juventude eterna ou a fórmula da imortalidade, resumimos nossas fantasias a pequenos universos criados e conhecidos somente pela mente de cada um.
Acontece que, aceitar a realidade é um fardo demasiado pesado para aguentarmos e conseguirmos seguir com nossas vidas normalmente, e é justamente para esse tipo de situação que eu venho desenvolvendo teorias sobre a real importância da vida.
Ora, sem esse papo furado clichê de que falar de morte atrai. Morte é fato e não é o pronunciar da palavra que irá atraí-la, afinal de contas a própria vida desde seu início tem atraído a morte, sejamos sinceros. Leve em conta sua condição humana, tão desagradável, que logo se dará conta do quão frágil é.
A sociedade é deveras complexa, fascinante, mas complexa. Então, ponhamos um bocado de poesia naquilo que é de difícil compreensão e você entenderá aos poucos que a dança da humanidade tem sido coreografada por ilusões assimétricas de suas necessidades naturais. O homem deu luz e vazão à sua razão e foi nesse instante que pois a perfeição em extinção.
Tomando um pouco de vergonha na cara, podemos facilmente assistir os fatos aceitando a desilusão de tudo. Mas que seria então de nossa liberdade de pensamento sem nossos devaneios? Fugir da realidade é o caminho mais próximo para a felicidade. Mas quem é louco de admitir que não é feliz?
Por entre a crueldade da vida real, conseguimos aos poucos achar nossos portos seguros e mentir sobre o quanto estamos frágeis perante a maior parte dos fatos e das ocorrências cotidianas. Mentirosos são todos. Hipócritas também. A vida não salva ninguém e o fardo é pesado de se carregar.
Minha cachorra é minha fonte inesgotável de ternura, mesmo que seja só mais um mamífero domestico que segue seus instintos primordiais. Para que então levar tudo tão a sério e deixar de lado a alegria mentirosa das pequenas coisas? Não é um estado de alienação mas sim de fuga daquilo tudo que nos dá medo. Para que encarar o que é certo ou errado? Ao final de tudo a própria vida dará conta do serviço. Se inventaram a poesia das fugas tanto sacras quanto levianas, apeguemo-nos a nossa falta de força e desfrutemos daquilo tudo que nossas inseguranças criaram.
Não se apoie nos meus pseudo conceitos antropológicos para tirar alguma conclusão sobre qualquer coisa. Estou apenas divagando por entre a instabilidade de meus pensamentos fracos.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Reiniciando.

Algo que já tivera sido iniciado uma vez, ao iniciar novamente reinicia o seu ciclo. Explico com esse pleonasmo o significado do termo que inicia o post para não existir nenhum possível pré julgamento sobre meu gosto musical. Dessa forma, nas primeiras linhas do meu recomeço consigo deixar claro meu gosto cultural avesso ao gosto cultural contemporâneo, que diz ter reiniciado de forma esdrúxula o conceito do que é rock.
Enfim, deixando de lado minhas escolhas musicais e meus preconceitos, vou tentar explicar o motivo de eu estar começando novamente um blog: tédio. Eu me entedio e escrevo. Escrevo, coloco em alguns lugares, principalmente dentro de gavetas pela casa, mas nunca fiz nada específico para os meus devaneios existenciais que inundam minhas crises entediadas.
Saibam, portanto, que os textos que seguem são desabafos angustiados de alguém que ainda não tem muito peso de vida nas costas e se entedia com facilidade. Meus textos são fonte segura da minha personalidade e são minha única maneira de falar com facilidade do que sinto. Realmente não existe simetria na minha forma de escrita, e também dispenso singularidades formais ao escrever, pois tudo que escrevo sinto sendo fruto da alma frustrada de alguém que não sabe muito bem o que quer da vida, além de fazer um curso de história, quem sabe.
Não existe real importância externa para aquilo que escrevo, portanto, caso surjam alguns leitores afim de apreciar minhas viagens íntimas sobre quem eu sou e a forma que eu entendo o mundo e as formas, não tentem achar motivo racional para minha escrita, e caso se identificarem com meus dilemas, avisem, pois eu irei gostar.
Alguns dos meus textos poderão ter sido postados anteriormente em outro blog, ou algo assim. Não reparem nos meus eufemismos, nas minhas hipérboles, nos meus paradoxos e nem nas minhas antíteses. Utilizo e reutilizo as figuras de linguagem a favor do meu modo de escrever. Possivelmente vocês encontrarão erros gramaticais e de concordância, e deixarão de encontrar sentido em muitas das coisas escreverei aqui, mas peço encarecidamente que relevem meu modo desconexo de tentar explicar o que sinto e minha pouca experiência. Em dezesseis anos, você ainda não sabe muito da vida e nem da língua portuguesa.
Enfim, para uma apresentação já estendi demais essa conversa. Muito obrigada aos possíveis leitores, e tchau.