quinta-feira, 25 de abril de 2013

Falta.

E o anseio
De tão coagido
Atinge sua borda
Desprende
E corre

Sai de seu limite
E apressa a busca
Pelo infinito ardor
Daquele que pulsa
Que engrandece
E escorre pelos lábios

A calmaria e a ânsia
Limítrofes, não se couberam
Invadiram-se na loucura da calma
E na calmaria do desejo
Emaranharam-me a alma
Renderam-me aos seus gracejos

A ânsia louca
Queima e corre
Penetra e sai
Busca louca
A saciedade
Daquilo que
Nos meus limites
Já não guardo mais

Inquieto na quietude
O delirante anseio
Toma conta da cena
E numa incoerência
Genuína na falta
Plena no vazio
Expulsa, expira, explode
Em letras jorradas
Estiradas mortas no papel
A vontade exacerbada
Daquilo que já não é meu

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Últimas Linhas.

Desencontro o verso
Dançando disperso
Nas cores do mar

E toda a fadiga
Dessa alegria
Que nociva
Festeja

Transborda o nada
Em toda parada
Desse caminhar
Sozinho

Quimeras de um mundo
De sonoras poesias
Onde teu gosto é
Meu

O mar paira nos olhos
Da pobre menina
Que não atina o
Coração

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

De carinho.

Então é só você comigo agora
Pra esquecer do mundo la fora
Embaralhar as nossas pernas
Até chegar o tom da aurora

Poetizar o nosso corpo
Na fúria de um beijo louco
Achar a beleza no óbvio
Perder-me em teus olhos

Fazer firulas no teu cabelo
Morder-te a ponta dos dedos
Gozar da nossa falta de decoro
Cantar-te meus versos bobos

E então, mergulhar no teu cheiro
Com minhas pernas te envolver
E dizer-te sem rodeios
Meus suspiros de prazer

E na simplicidade da nudez
Na falta de pudor ao te encontrar
Pude, enfim, conceber
A delícia de um alguém poder amar



A doçura da memória
Amarga o coração
O mel que foi embora
Transformou-se
À essas horas
Em aguardente
De solidão

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Aflita.

    Todos os vocábulos, todas as frases, todas as partes de mim que conseguem se transpor para o tangível por meio das letras, prenderam-se no topo da minha garganta, na ponta dos meus dedos e agora, soberanas de si mesmas, recusam-se a encontrar lugar no papel, para desafogar minha essência, tão perdida, cansada e confusa nesse mar de mim mesma onde tornei-me refém há tanto tempo. Hoje já sofro de síndrome de Estocolmo,
    O mar de mim é denso e profundo, me perco, ao mesmo tempo em que me encanto pela imensidão, por não mais ser capaz de subir à tona da realidade, e sob minhas loucas águas estar imersa numa zona em que o afogamento já se tornou sinônimo de conforto.
    Não me movo, estagno-me perante a falta de sentido, perante o incoerente fluxo dos meus pensamentos apressados, dos meus sentimentos tão densos e indecifráveis. Costumava aliar-me à poesia torta, e com versos tortos construía assim um subterfúgio, ainda mal delineado, para a fuga disso tudo que me sufoca, me aperta, me submerge nas minhas águas, nada límpidas, e de possibilidades infinitas.
    Me fascina o mover de minhas águas, um mar tão aberto, que sufoca devido sua falta de finitude, amedronta pelo seu tamanho e densidade, ao mesmo tempo em que me instiga, me puxa, me domina, me faz querer toda essa liberdade, toda essa falta de linha, esses movimentos hostis, loucos, que me machucam e também me afagam... Quero prender-me em bordas limiares, de águas calmas e rasas, um espaço onde tudo o que eu conheça me pertence e em que a dúvida deixe de ser uma constante. Porém, nas vezes em que teimei com a bravura de minhas águas inquietas e ao entorno delas quis impor limites, eu mesma penei com a possibilidade de deixar de poder morar nessa confusão de mim.
    Por fim, não sei onde me apegar para transformar todo esse mar numa realidade mais palpável, agora que de mim as palavras se desaliaram, me sinto só e desamparada como nunca antes estivera... Sofro dores de parto mental, cada vez que tento achar as linhas para as letras poder desenhar, e fazer surgir assim a panaceia de meus delírios insanos, mas nada consigo encontrar, nem um doce pedaço de poesia, nem um verso, uma rima.... Me desespero e afogo, quase sucumbo em meu mar, esperando que um dia as palavras possam ser novamente o frágil e efêmero abrigo de umas gotas do meu incessante mar.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Limite.

Meu corpo escorre vida em todo canto
De essência quase transbordo, afetada
Desestabilizada, me coloco em choque
Enxergo com os olhos de quem não vê

Enxergo com os olhos de quem escuta
Escuto com os ouvidos de quem cheira
Cheiro com as narinas de quem sente
Apalpo com as mãos de quem enxerga

O medo de que todos esse afetos insanos
Me transportem cruéis para o amanhã
Tão desiludido, pobre e morto
Quanto os afetos todos dizimados
Enche-me de amor pelos limites
Pelos quais eu pulso, escrevo, discorro

Tão pequenos esses limites todos
Para a imensidão daquilo que percorre
A extensão inteira e caótica do meu ser
Os limites tão frágeis do meu corpo
Que a cada pequeno afeto novo
Me impedem de enlouquecer

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Depois.

Depois do pranto
Tem flores no quintal
Tem vento em todo canto
Tem roupa de dois no varal

Depois do choro
Tem a cama quentinha
Tem a nossa falta de decoro
Tem barulho pra vizinha

É que depois que se fecha a cara
Que se fala, desfala, solta prato na parede
É a hora de soltarmos as amarras
E deitarmos nus no nosso tapete

Depois do nosso drama tão piegas
No chão ficou a minha calcinha
E devagarinho tu me fez cócegas
Pondo um sorriso na nossa rinha

Nem lembro mais do motivo,
Depois de te cheirar o cangote,
Daquela nossa falta de juízo
E te mergulho no meu decote

E com o fim da briga azeda
Tem o nosso apimentado depois
Tem mordida na tua orelha
Tem noite quente pra nós dois